Redes sociais nas empresas. Por quê não?

Cerca de quarenta por cento dos projetos que desenvolvemos dentro de nossa empresa não são de portais ou websites, mas sim de sistemas internos para companhias de todos os portes que precisam gerenciar recursos e colaboradores. São as intranets, softwares que aproveitam-se da tecnologia IP para administrar informações de todos os tipos e tentam, com certo grau de sucesso, manter o caos do conhecimento existente dentro de cada um dos departamentos a bom termo e compartilhá-lo com todos os seus usuários.

Muitos destes projetos, senão a maioria, chega até nós com a mesma reclamação ou desejo: “precisamos de uma ferramenta que seja interessante e atrativa para nossos colaboradores e que ao mesmo tempo leve a informação da empresa para todos os níveis da organização”. Ao contrário do que é possível imaginar, não são funcionalidades como novidades da empresa, palavra do presidente ou funcionário do mês que desejam estes empresários, mas sim a gestão de seu pessoal de forma que estas informações sejam também oferecidas mas que o usuário as absorva homeopaticamente e sem força. Neste momento entra em ação o conceito de rede social dentro das empresas.

Antes que me chamem de louco, vamos aos fatos. Brasileiro adora falar (e já disse isso aqui antes), se mostrar e ser visto. Somos os primeiros no Orkut, o crescimento de nossa Internet é superior ao apresentado em países desenvolvidos e o número de terminais de telefone celular supera qualquer nação em números proporcionais. Além disso, temos um quê inexplicável pela vida alheia e não é a toa que a maior parte dos internautas brasileiros participa de várias redes sociais diferentes. Facebook, Sonico, MySpace e tantas outras caíram em nossas graças de forma inimaginável e aliados as redes, blog’s pipocam todos os dias e não ter um Twitter é quase como estar andando pelado em plena Avenida Paulista, algo impensável.

Se somos assim por natureza, por que não aproveitar este desvio de DNA dentro do corporativo? Por que não levar este conceito de rede social (ou parte dele) para dentro das organizações em um software que, além de servir para o propósito original de compartilhamento e organizador de conteúdo, também sirva como aglutinador de idéias, pessoas e claro, fofocas? Corta-se alguma funcionalidades para adequar a idéia para o profissionalismo e sobriedade da organização e tem-se sem muito esforço uma ferramenta atrativa, informativa, eficiente, útil e que certamente irá despertar em seus usuários o desejo de acessá-la várias vezes ao dia tornando-se então onipresente em sua vida profissional de tal forma que será impossível esquecê-la.

Mas para que tudo isso ocorra são necessárias algumas práticas corretas para que não seja criado um monstro dentro de casa que em pouco tempo se torna indomável. Suas restrições devem ser um pouco maiores que a maioria das redes sociais existentes (somente pessoal da empresa, log’s de acesso e atividade obrigatórios, etc.), algumas funcionalidades devem ser removidas e outras acrescentadas. Mas na essência, o software não deixará de ser uma rede social que pode ser segmentada por departamentos, seções, unidades ou de qualquer forma imaginável e que traga as principais informações sobre cada um dos usuários. Então, no perfil tem-se a foto do mesmo, sua data de nascimento, cargo, função, departamento, ramal, e-mail e uma série de informações corporativas além de espaço para o mesmo ter seu blog a fim de compartilhar idéias com todos, seus grupos (que devem inclusive permitir a criação de grupos pelo próprio usuário), os projetos nos quais trabalha ou faz parte e etc. Também, a plataforma é usada para a distribuição de documentos da empresa (fichas, manuais, faq’s e etc.), criação de formulários de todos os tipos para interação entre as áreas (que tal o pedido de férias automático ou a solicitação de material de escritório?) e claro, a distribuição da palavra da empresa para todos. Uma ferramenta que sem dúvida nenhuma agradaria até os mais céticos.

Além das práticas, a mudança de visão da empresa também se faz necessária pois não é possível a coexistência de uma rede social corporativa com a rigidez das idéias de Taylor. Redes sociais são por sua natureza abertas, mutantes, auto-gerenciáveis e principalmente um mecanismo que oferece ao usuário (leia-se funcionário e/ou colaborador) formas de ter voz dentro da corporação, sendo um local onde se exerce não somente o uso de um software ou aplicação, mas também a democracia do ouvir e ser ouvido. Se sua empresa não permite isso ou acha que uma rede social pode ser uma forma de propiciar um ambiente para o fomento de motins e greves, esqueça-a. Você e sua empresa não estão preparadas para ela pois não é possível implementá-la no “meia boca”; ou se faz realmente ou usa-se o processo neolítico já conhecido do tacape.

Para aquelas empresas mais abertas em suas visões e objetivos, ela é uma aliada muito forte na integração dos colaboradores que muitas vezes não se conhecem, na distribuição das notícias, preceitos e desejos da direção da empresa, na facilidade da adoção de processos (até mesmo os mais dolorosos) e quem sabe também um celeiro de novas idéias que podem render dividendos de todos os tipos e que estão dormentes dentro de uma cabeça qualquer no almoxarifado da ala “C”. O segredo está na dosagem do que se pode ou não se pode fazer e principalmente onde se deseja chegar. As tecnologias atuais permitem tudo isso, basta a empresa mudar sua cultura, acreditar que o colaborador é um parceiro no sucesso do negócio e aceitar que somos não somente um país abençoado por Deus e bonito por natureza, mas que também adoramos falar, ouvir e nos comunicar.

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