Business plan (ou também chamado de “bp”) é um substantivo que pode trazer regozijo e medo; duas sensações antagônicas e de certa forma até estranhas para o que é. Alguns chegam ao clímax pensando nele enquanto outros tremem só ouvir falar. E será que você realmente precisa de um?
Você já deve ter ouvido que para levar adiante qualquer negócio que esteja em sua cabeça, precisa de um business plan. Além dos blogs, artigos e textos sobre o tema, existem até livros e cursos com dicas para realizar um business plan matador que o levará às alturas com sua empresa, dando dicas do que colocar, o que não colocar, como diagramar, como pintar e até mesmo quantas páginas deve usar para mostrar sua ideia. Confesso que fico intimidado quando leio algum texto sobre como fazer um “bp” pois decerto é material para gênios, coisa que não sou.
E nessa vergonha pessoal, fui procurar o business plan do dono do Facebook. Não achei. O mesmo fiz sobre o ex-dono da Microsoft, recorrendo aos idos da década de 70. Não achei. Idem para o Google (mas a história sobre seu começo é muito boa). Não achei. Da Apple encontrei dois documentos interessantes de seus primórdios que um deles é um business plan mas com data de cinco anos após a fundação da empresa. Não satisfeito, procurei da Sony (que já sabia não existir pelo livro de Akio Morita), da Samsung, da Audi, da Lamborghini e nada!
Opa, alguma coisa está errada. Não sei se é comigo que não sei fazer buscas corretas ou com estas empresas que não fizeram a lição de casa. Porém existe uma terceira alternativa: quem vende ideias de business plan está vendendo… business plan!
Precisa?
Posso estar enganado, claro. Porém penso que business plan é tão importante para uma ideia quanto o vaso da recepção da empresa. Ideias quando geniais se vendem sozinhas e não é necessário um bp para tal. Isso as empresas acima pesquisadas mostram com total clareza e corroboram esta afirmação.
Existem casos que ele se faz necessário? Penso que sim. Se você está em busca de dinheiro de alguém sem ter nada para troca, ele pode a ferramenta que ajudará sua capacidade de argumentação sobre algo que pode se tornar interessante. Observe que é exercício de futurologia: pode se tornar. Ninguém sabe se vai ser ou não e por isso precisa gastar neurônios para explicar o milagre a alguém (que via de regra é mais cético que São Tomé) com um business plan.
Porém ficam as seguintes perguntas: você realmente precisa montar uma microempresa (ou uma startup como os moderninhos insistem em rotular) para colocar uma ideia para frente? Será que precisa de um business plan para isso? Indo além nos questionamentos, é isso que você quer?
Uma startup
O sonho de vida de muitos é criar e ter uma startup. Este também foi o meu durante muitos anos, o qual abandonei para criar uma nova versão que chamo “alone up“. Esta versão tem muito da essência de uma startup. Ideias, testes, pesquisa, vontade de fazer diferente e assim por diante. Porém a diferença fundamental é ser um time de um homem só. Isso deve soar estranho já que startup é quase sinônimo de um conjunto de ideias de diferentes pessoas.
Esta mudança advém das próprias ideias que tenho para produtos e serviços que muitas vezes não se alinham com as de investidores. Questões de compartilhamento de conhecimento, uso de diferentes técnicas e processos e o modo de conduzir tudo acaba afastando. Mas isso me traz vantagens como não ser pressionado em ter um produto ou serviço muito rentável ou caçar uma meta financeiro-comercial-lucrativa. A maioria das startups sofrem o frenético tear down these wall, mas eu prefiro o tranquilo step-by-step. É mais difícil? Pode ser. É menos rentável? Também pode ser e somente o tempo tem a resposta para essas perguntas. Mas baseando-me em alguns casos, creio não precisar ter medo de não ter um business plan e tampouco uma startup na essência da palavra.
Hey DJ
Um dos exemplos que me faz refletir sobre precisar ou não de uma startup e de um business plan vem de alguém que nada tem de startup. O nome dele é Armin Van Buuren. Um advogado holandês considerado a 10 anos um dos três melhores DJs do planeta (cinco como o número um). Os mais “coroas” como eu decerto não tem a menor noção de quem é, mas os jovens já foram em alguma balada embalados pelo trance do magrelo.
Armin é aquele tipo de artista que arrasta milhares de fãs em suas apresentações, sejam em pequenos clubes e casas noturnas (que não são tão pequenos) ou mesmo em estádios lotados. Lenta e constantemente, ele montou não somente uma carreira de sucesso, mas também uma inteligente estrutura de fazer dinheiro sem nenhum plano de negócios ou investidor, apostando em suas ideias e talento.
No começo, seus remixes sustentaram a carreira. Então emplacou alguns hits nas paradas inglesa e espanhola (mas ainda sem gravadora própria) e um rádio show numa emissora holandesa. Seu break-even deu-se realmente quando levou seu show para a Internet. Nela percebeu um enorme filão ainda não explorado que poderia lhe render muito. Essa história pode ser vista no documentário “A year with Armin van Buuren” no YouTube.
Sucesso
Para encurtar, hoje ele possui uma gravadora própria com dezenas de artistas e selos (além de seu próprio), um rádio show com mais de 20 milhões de ouvintes semanais em 26 países e uma produtora de vídeo broadcast. Além disso, também realiza ações de merchandising, venda de produtos com sua marca, canais de música e vídeo no iTunes, etc. A diversividade é tão grande que não consegui listar tudo o que faz em volta de seu nome e seu trabalho.
Isso coloca qualquer um para pensar pois quebra, de diversas formas, o conceito de startup. Não, ele não é sinônimo de união de duas ou mais pessoas e tampouco um business plan é necessário para qualquer empreitada. É possível fazer o que gosta, o que tem talento, apostar numa ideia e fazer sucesso com ela. A principal lição em meu ponto de vista é a crença no que se faz e principalmente fazer. De nada adianta ter um maravilhoso business plan se a ideia é fraca ou se ela nunca sai do papel.
É para todos? Definitivamente não. Ter timing para mudança (ele largou a faculdade de direito e depois retornou) e senso de oportunidade também não. Não é para qualquer um e mais ainda para aqueles que gastam tempo demais na confecção de um business plan. Como já dito, uma boa idéia se vende com ou sem business plan. É simplesmente uma boa ideia.
Ideias
Ideia não é somente aquele aplicativo ou serviço que vai mudar a vida de milhões no planeta. Armin mostra isso com seu negócio. Música é tão antiga quanto a civilização e discotecagem existe há pelo menos 40 anos. O que mudou então? O que ele inventou de novo? Absolutamente nada. Tocar discos em boates, ter programas de rádio e lançar discos é algo manjado. A diferença foi descobrir como as ferramentas disponíveis poderiam render frutos. Isso ele faz com maestria sincronizando recursos tecnológicos para atingir seu público de todas as formas. Resultado: fãs espalhados por todo o planeta e dinheiro no bolso.
Seria possível afirmar que ele não possui um business plan até hoje? Não e até acredito que tenha para sua gravadora. Porém para seu negócio pessoal (carreira e nome) não acredito. “perder tempo” com ele seria literalmente perder dinheiro. Aqui, de novo, entra a questão das ideias, do timing e do senso de oportunidade que são muito mais importantes que o tal bp.
O mesmo exemplo pode ser transportado para qualquer negócio de qualquer segmento. Um exemplo fica por conta dos vendedores ambulantes das marginais da cidade de São Paulo nos horários de pico. A desgraça de ficar parado no trânsito pelos olhos de alguns tornou-se um gigantesco mercado onde se vende de tudo; água, chocolate, biscoito, carregador de celular, sombrinhas, etc. Quem em sã consciência pensaria em algo do tipo até ver acontecer? Essa é a essência de ideias e que não contam com business plan de nenhum tipo. Simplesmente acontecem.
A ferramenta Waze é outro exemplo. Um GPS como outro qualquer mas com a facilidade de informar onde estão ocorrendo blitz policiais pela cidade. O projeto não foi idealizado para este tipo de atividade (que deve ser inclusive contravenção) mas tornou-se. Nas mãos, uma ferramenta que coloca num aparelho funções que todos tem e algo que nenhum possui.
E o business plan?
Ainda está pensando nele? Então vou lhe dar duas diferentes visões sobre um mesmo negócio.
Você é um desenvolvedor web e tem uma ideia de um serviço que acredita ser bom e que pode lhe render um bom dinheiro. Como aprendeu a sequência tradicional “ideia – business plan – investidor”, consome a maior parte de suas forças no meio do processo. Isso agradará o terceiro elemento da corrente que viabiliza o primeiro. Faz isso porque mesmo a ideia estando cristalina em sua cabeça, precisa fazer algo impactante. Conseguir quem pague o escritório, equipe de marketing, design e até de um vaso na recepção (adoro-os!) não é fácil.
Então você criou um business plan. Ele está bem apresentável visualmente, contém o sumário executivo, as informações conceituais sobre a ideia e a oportunidade. Também possui a descrição do serviço, análises de mercado, projeções financeiras, fluxo de caixa, etc. Tudo aquilo que é importante mostrar para os investidores com quem marcou as reuniões durante uma semana inteira. Na segunda-feira toma aquele banho de princesa, faz a barba, coloca o terno e sai para a batalha. Começa a peregrinação que, infelizmente não deu em nada. Que frustração!
Dizem os manuais que você não deve esmorecer. Também concordo com este pensamento mas depois de diversos “não”, você começa a pensar o que pode estar errado. Será que seu business plan está bem apresentável? Faltou algo? Sobrou algo? A dúvida lhe atormenta e você volta para reescrever o documento para uma nova rodada de reuniões.
Um segundo desenvolvedor optou por criar um MVP – Minimum Viable Product, que é que sua ideia funcionando. Desenvolveu o código, fez os testes e usou um layout básico para colocar a ideia para funcionar. Pouco tempo depois um investidor encontra a ideia que já possui uma base de usuários e rende algum. Percebe-se que ela tem algum futuro e oferece investimento para melhorar a mesma.
Diferença entre as visões
Na primeira você gastou tempo em futurologia (poderia ter contratado uma cartomante para isso, não é?) tentando explicar um serviço onde o investidor não conseguiu ver, fosse por má apresentação, fosse por dúvida, todo o potencial. Na segunda a ideia estava em funcionamento, com usuários e mostrando seu potencial, além de oferecer a você a opção de ficar com o investimento ou seguir sozinho. Se você é um investidor, o que faria?
As visões trazem no bojo um pensamento subliminar que é “quanto eu preciso realmente um business plan se posso colocar a ideia para funcionar?” Nem sempre a segunda visão é a melhor mas, por experiência própria, ela oferece menos calos que a primeira.
Indico que não leve a ferro e fogo as opiniões aqui apresentadas mas que avalie as diferentes opções para sua idéia e principalmente o que deseja fazer com ela. Novamente, elas podem servir para sua situação como não. O intuito aqui é abrir uma nova via para a tradicional afirmação que business plan é a alma do negócio e mostrar que variações sobre o mesmo tema podem muitas vezes render melhores frutos. Seguir a boiada nem sempre é a melhor decisão pois ela pode estar a caminho do matadouro.