Um de meus garotos passou no vestibular na última semana (parabéns filhão!). Com 21 anos, resolveu cursar tecnologia em jogos digitais, algo que eu não sabia que existia, mas suspeitava devido o crescente mercado de games ao redor do mundo que, sem dúvida nenhuma, demanda profissionais pensando em toda a mecânica necessária para entreter seus usuários por horas a fio.
Ao contrário da maioria dos pais que sonham em ter um filho médico, advogado ou engenheiro, o apóio em sua escolha e principalmente no momento da vida em que a está fazendo. Crítico ferrenho que sou do sistema enlatado de ensino hoje oferecido, não acredito que um jovem saindo da puberdade seja capaz de fazer uma escolha para a vida toda e recomendo o “lag espiritual” para uma decisão como essa. Cria-se profissionais melhores, mais eficientes e mais felizes, afinal, fazer o que gosta é muitas vezes uma dádiva.
Hoje atingir este objetivo é muito mais fácil que para gerações anteriores. A Internet com suas facilidades permite não somente o acesso à informação para uma boa escolha, mas também ferramental para levá-la adiante (conhecimento), oportunidades para colocá-la em prática (novas carreiras e empregos) e acima de tudo, a possibilidade do compartilhamento de toda uma bagagem cultural e informativa com pessoas espalhadas pelos quatro cantos do mundo. Sem ela ainda estaríamos presos aos modelos mais tradicionais que não mais servem para a atual sociedade. Mas tudo isso me faz pensar noutra coisa; será que a Internet é a solução para a relação humana? Penso que não.
Simon Sinek em seu livro Por Quê? — Como Grandes Líderes Inspiram Ação decorre principalmente sobre o “por quê?”, aquela pergunta que deveríamos fazer corretamente para nós mesmos e como ela pode mudar nossas escolhas e nosso futuro. Quando a pergunta é errada, a resposta pode se tornar o principal motivo para erros crassos ao longo de toda uma vida. Um exemplo interessante é perguntar para qualquer pessoa porque ela se levanta todos os dias. Muitas delas, senão a maioria, responderão “para trabalhar” enquanto outras, atônitas, não conseguirão responder.
Para aquelas que respondem “para trabalhar”, é interessante levar adiante o questionamento e perguntar: “e para que serve o que faz?” De novo, as respostas são variadas mas boa parte responderá “para meu sustento” ou ainda “para se ganhar dinheiro”. De outro lado se a resposta tem algo como “porque eu acredito que posso fazer diferença”, cuidado, esta pessoa pode em breve comandar você.
Fazer a pergunta correta e honesta é o que leva uma pessoa ou empresa a se destacar. Digo sempre que, se o motivo é monetário pura e simplesmente, que seja traficante de drogas ou político, afinal ambas as “profissões” são muito mais rentáveis e demandam pouco esforço. O dinheiro, sucesso pessoal, profissional ou empresarial não são os motivos; são resultados. Para ser alguém que realmente inspira e realiza é necessário responder e entender a pergunta: por quê?
Voltando ao meu garoto, creio que seus dois anos de delay para escolher uma profissão não foram jogados fora, pelo contrário. Ao longo do tempo, procurou aquilo que realmente o inspirava e que poderia, de uma forma ou de outra, lhe fornecer respostas para seu por quê. Com isso creio que terá não somente seu pagamento no final do mês garantido mas também ser reconhecido.
Uma dica; se deseja inspirar as pessoas ao seu redor, não tente levantar sua pontuação no Klout, uma das mais estúpidas ferramentas que já vi na Internet. Ser reconhecido ou inspirador não passa por um algoritmo qualquer ou pelo número de “amigos” que você possui no Facebook, mas sim por sua crença verdadeira de que seu “por quê” é motivador. Tuítes, “likes” e posts sem conteúdo todos conseguem fazer, existindo até empresas onde você pode comprá-los. Porém ser realmente inspirador é algo só conseguido sabendo exatamente a resposta do “por quê”.
E esta dica vale também para sua empresa. Gastar dinheiro em campanhas de marketing digital e melhores posicionamentos em mecanismos de busca só para mostrar que você têm um produto com preço mais baixo ou que ele possui a tecnologia XPTO, inspira pouco além da dúvida no consumidor de até onde ele está sendo enganado. A chinesa Jac Motors é uma boa mostra deste típico erro onde mesmo com o apelo de baixo preço, melhor qualidade e design italiano, venderam no Brasil num ano o mesmo que a Fiat vende em dois dias. Falta inspiração mesmo com um bom produto (e convenhamos, Faustão não inspira nada exceto asco).
Cativar o consumidor é uma arte complexa mas que pode ser facilitada com a boa resposta do “por quê”. Semanas atrás tive a grata surpresa de assistir um comercial do sabonete Dove que mexeu com meus íntimo. Não é um comercial de um produto pura e simplesmente, mas algo que inspira, que mexe com quem está assistindo por mostrar o porquê do produto. Se ele realmente é bom ou não é questionamento que passa ao largo da discussão, já que a forma de mostrar o por quê realmente inspira.
O mesmo acontece com sua carreira e sua profissão. Você consegue facilmente distinguir aquele que está fazendo aquilo somente pelo dinheiro (Fausto Silva?) e aquele que realmente tem um por quê estar fazendo aquilo (Tom Hanks?). Qual é aquele que lhe inspira? E qual não?
Se quer vender mais, ter mais clientes ou mesmo escolher uma profissão ou carreira, pergunte-se honestamente “por quê?”. A resposta pode parecer simples mas verá que não é. Neste momento, um “lag espiritual” pode operar mudanças muito interessantes. Por quê? Oras, porque faz.
Artigo originalmente publicado na Revista Wide.