O Software Livre é muito melhor que o Windows

Consultor de Sistemas/Ti afirma que o Windows é muito melhor que o Software Livre? Será mesmo?

O consultor de sistemas/TI, Paulo Bindo, publicou há alguns dias no site técnico da Microsoft Brasil, Technet, um artigo onde afirma que o Windows é melhor que o Software Livre. Acredito que para tal, o articulista procurou algumas informações e corretamente discorreu sobre GPL, utilização desta licença e sendo inclusive feliz quando afirmou que “Quando falando sobre o software livre, é melhor evitar o uso de termos como “dado” ou “de graça”, máxima esta pregada por todos os adeptos desta comunidade, desde os mais novos até os famosos gurus.

Mas em algum ponto sua atenção foi desviada e infelizmente aquele que poderia ser um bom artigo de um profissional que trabalha com softwares fechados sobre o modelo de Software Livre, acabou tornando-se mais um “comentário de quinze minutos” que irá engrossar a história das tentativas frustradas de imputar ao modelo livre algo que ele não é. Vejamos do que se trata.

O articulista afirma que para a instalação de uma rede baseada em Software Livre é necessário contratar um profissional que irá configurar tudo manualmente e de acordo com seus conhecimentos, fazer as modificações que achar necessárias e compilar e aplicar as atualizações manualmente.

Seguindo adiante, afirma ainda:

“Atrás de uma rede Microsoft existe toda uma metodologia, equipe de suporte, centros de treinamento, grupos de discussão. Isto é uma segurança que nenhum software livre pode dar. Imagine se o administrador de rede, que modificou e configurou um software livre, resolve abandonar a empresa. O que foi modificado? Quem dará suporte? Quem atualizará o software livre com uma nova versão? Qual a garantia que irá funcionar?”

Nestas duas afirmações existe um jogo de palavras que o leitor desatento pode engolir e ter uma congestão complicada por um aneurisma cerebral. Então, “get the facts”

Deployment, atualização e manutenção
A contratação de um profissional é sem dúvida necessária em ambos os modelos. Entretanto, tal qual o software fechado, o Software Livre possui ferramentas de deployment tão boas ou melhores que vendidas por seus concorrentes. Exemplo delas são o Yast e auto Yast da Suse e também, para aqueles que possam dizer que o modelo de negócios da Novell não condiz com o Software Livre, ferramentas como o H-Inventory (http://sourceforge.net/projects/h-inventory) ou ainda o Mosquito SREF (http://sourceforge.net/projects/mosref) são soluções a altura de qualquer rede e qualquer ambiente, além de possuirem uma vantagem muito interessante: cross-platform, ou seja, trabalham em qualquer plataforma de software. Para soluções nacionais, tanto o Jegue quanto o Pagode (http://www.anahuac.biz/lesp) são alternativas que mesmo com seus nomes engraçados, cumprem diversas tarefas de integração e trabalho com redes herterogênas e sistemas e e-mail.

A compilação e aplicação de atualizações são também pontos interessantes a serem discutidos. Da mesma forma que o software fechado, são necessários ajustes finos em qualquer sistema operacional (o famoso Regedit) devido as diferenças de hardware, rede, cabeamento e aplicações que estão em funcionamento nos servidores. Seria humanamente impossível afirmar que qualquer empresa ou comunidade é capaz de criar um sistema operacional que se ajusta automaticamente em qualquer meio. Assim, a intervenção humana é necessária em AMBOS os casos. Isto é fato.

Já as atualizações podem (e são) executadas tanto com aplicativos específicos (como os mencionados acima) ou da mesma forma que o Windows, onde é criado um repositório local e deste executar a atualização automática para todos os servidores e desktops da rede. Assim não se torna necessária a configuração de absolutamente nada, exceto dizer qual é o repositório (como também na outra plataforma), principalmente em distribuições como Ubuntu, Debian e Fedora.

Metodologia e abandono
Uma das grandes vantagens do Software Livre é o compartilhamento do conhecimento. Por não ser fechado sob patentes e/ou direitos de uma empresa, qualquer pessoa pode ver o que o software faz, como ele faz e como ele foi feito. Ao contrário do que o articulista afirma, esta não é uma característica ruim do modelo, pelo contrário. No exemplo citado, caso o administrador abandonasse a empresa, a solução seria contratar outro profissional para dar andamento no ponto que o anterior parou.

Mas virando a roda fica a seguinte pergunta: “e se a empresa do software fechado resolve encerrar o ciclo de vida daquele produto ou fecha suas portas? Quem irá atualizar e fornecer o suporte necessário àquela plataforma instalada, principalmente no momento de uma atualização crítica ou upgrade de versão?” Impossível de acontecer? Não mesmo. Exemplo disto foi o abandono do sistema operacional OS/2 pela IBM que levou instituições como o Banco do Brasil a se preocuparem mais com a questão pois todo o investimento feito até aquele momento não mais seria suportado pelo detentor do código. Resumidamente um típico “a bola é minha e não quero mais jogar”.

De outro lado, tanto a metodologia quanto suporte e treinamento são fatos dentro do mundo do Software Livre. Empresas como HP, Novell, RedHat, IBM e outras grandes fornecem suporte às suas aplicações e aplicações de terceiros nos mesmos moldes que o software fechado, mas com uma diferença: custo reduzido e estabilidade na aplicação. No mesmo segmento, pequenas e médias empresas nacionais como TYR, 4Linux, Impacta, LinuxFi, Solis, OpenS e outras, possuem equipes para suportar quaisquer tipo de necessidades do mundo livre e também fornecer treinamentos e certificações como quaisquer outras empresas “não livres”.

Fóruns, listas e grupos de discussão são a mola propulsora do modelo comunitário do software livre. Pessoas se organizam caórdicamente em torno de projetos e aplicações com o intuito de portá-las, estabilizá-las, incrementá-las e modificá-las de acordo com interesses não somente do mercado, mas também de pequenos grupos ou comunidade espalhadas pelo mundo. Plataformas de hardware que seriam descartadas comumente recebem uma sobrevida de vários anos para aplicações mais simples e que não exijam grandes demandas de performace e resposta, algo impensável no modelo fechado de desenvolvimento. Desta forma não somente o suporte ao atual, ao moderno e ao top de linha é feito, mas também ao antigo, ao desatalizado e ao low-end.

Conclusão
Não posso negar que meus anos de trabalho com o software fechado me permite discorrer sobre o modelo com tranquilidade, vantagem esta que o articulista apresentou não ter devido ao desconhecimento, intencional ou não, da matéria em questão. E da mesma forma que o articulista afirma, o Software Livre é muito mais que uma ideologia. É um fato incontestável e uma tendência irreversível e natural na globalização e no mercado capitalista atual onde empresas, organizações e negócios demandam cada vez mais por menos. Menos não significa somente licenças. Menos significa também menos vírus, menos spam, menos bug’s e menos paradas do sistema. Junto disso, algo que nenhum outro modelo pode fornecer: a real possibilidade de um mundo mais igualitário, também no software.