Muito já se falou em como ganhar dinheiro com software livre mas mesmo assim a grande maioria dos empresários e das empresas que desejam estar dentro deste cenário ainda não compreendem como algo “de grátis” pode ser monetariamente funcional. Onde está o erro? No modelo? No capitalismo ou no entendimento de como isso é feito?
Há muito tempo venho falando sobre isso e quando digo “Há muito tempo” é algo como dez anos. Para mim sempre foi fácil compreender a forma como isso acontece pois minha relação com a comunidade de software livre em geral é muito forte e grande. E este é o grande segredo; a relação com a comunidade em maior ou menor nível, mas uma relação que não seja pautada por interesses escusos.
Engana-se aquele que acredita não precisar da comunidade que orbita qualquer projeto de software livre. Sendo ela o essencial pilar de sustentação de qualquer projeto deste modelo, as relações entre empresas/empresários e ela devem ser não somente “pro forma”, mas principalmente de respeito e meritocracia. Com uma facilidade de organização ao redor de pontos de interesse, ela vem provando ao longo do tempo que sua força é muito maior que a simples vontade de programadores juntos, podendo fazer grandes estragos quando não bem compreendida ou respeitada.
Diante disso o empresário que realmente deseja fazer dinheiro com o software livre deve antes de qualquer coisa, compreender a comunidade ao redor. Esta não é uma tarefa das mais difíceis de ser realizada mas também não é tão fácil como tirar pirulito na boca de criança pois esta compreensão está além de simplesmente saber o que é um código, um servidor de versionamento ou uma licença. É um trabalho quase psicológico em entender seus anseios e interesses, suas deficiências e problemas e trabalhar em conjunto com ela para que todos saiam ganhando.
E porque isso é necessário se não passam de “programadores” ao redor de um código? São muito mais que isso. São aqueles que irão suportar as demandas de dúvidas e resolução de problemas colaborativamente, são aqueles que vão fazer o marketing viral de uma solução ou serviço e são aqueles que indicarão para segundos, terceiros e quartos, quem realmente está alinhado com os preceitos do software livre e quem é somente gaiato dentro do navio. O chamado fair game é realmente necessário quando se pensa em ganhar dinheiro com este modelo. Obedecer as licenças, devolver o código e auxiliar nas demandas da comunidade fazem parte da agenda diária do empreendedor livre que deseja ter sucesso.
Ok, mas você deve estar em busca de alguma fórmula mágica para o sucesso e acha que este artigo não responde suas questões? Pois não se engane. Gastar tempo e bits nos famosos tópicos de prestar serviços, consultorias, treinamentos ou no desenvolvimento de produtos é infinitamente menos importante que os pontos aqui levantados. Todo o empresário sabe com funciona a prestação de serviço ou como é realizada a criação de um produto em seus mínimos detalhes, mas nem todos compreendem como o software livre é capaz de monetizar tanta gente ao redor do mundo sendo algo equivocadamente considerado gratuito.
O segredo então está na comunidade. Qualquer cenário que pense em implementar, seja ele de produtos ou serviços, a comunidade precisa ser levada em consideração. Isso não quer dizer que ela irá ditar os caminhos de seu negócio mas tal como uma viagem de barco pelo oceano, se não levar em consideração arrecifes e ilhotas que estão pelo caminho, pode acabar naufragando em alguma praia do planeta.
Pense a respeito e sucesso!
Artigo originalmente publicado na edição nº 26 da Revista Espírito Livre
Creio que definir o ponto de equilíbrio entre o interesse comercial e o da comunidade, seja um dos aspectos mais complexos, para as empresas que desenvolvem projetos de software livre. Muitas empresas que “compram” um projeto de sl, tentam ditar na marra os rumos dos mesmos, visando apenas seus próprios benefícios, vide os recentes fiascos da Oracle. Por mais que o ecossitema livre permita que se crie um novo projeto (fork), pode-se esbarrar em problemas perigosos como as patentes de software.
Enfim, o “money” é essencial, resta aprender como ganhá-lo.