Essa tal “comunidade”

De um lado, poucos fazem muito. De outro muitos fazem nada e ainda reclamam daqueles que não fazem. Você entende? Eu não.

Existem coisas que me chateiam. Miséria nas ruas, bandido mandando no estado, Rede Globo, chuva quando quero ir à praia e outras tantas. Mas o que mais me chateia, ou melhor, me tira do sério, é a comunidade de sotware livre quando veste sua roupa de “a chata do pedaço”.

Gosto muito de contribuir com a comunidade. Passo muito do meu tempo dando uma força para este ecossistema manuais, how-to’s, artigos, desenvolvendo softwares, códigos e uma infinidade de outras atividades. Claro que faço menos que muitos mas me orgulho do pouco que faço e os números de acesso aos meus sites e downloads apresentam que o trabalho, mesmo sendo pequeno, ajuda muita gente.

Mas volta e meia fico irado com a comunidade. Para alguns ainda é pouco o que faço e por isso muitas vezes sou mal dito e até mesmo chantageado por ela. Quer um exemplo real? Aqui está:

SAudações
A tradução BR do Mambo 4.6 sai logo ou não ... tenho alguns clientes me pedindo o site em português.
Caso contrario vou utilizar o JOOMLA tradução PT que já está disponível

PS: a mensagem está ipsis-litteris

Muito bem! A pessoa me manda uma mensagem às 23:30 de uma quarta-feira me “cobrando” uma tradução de um software porque “tem alguns clientes pedindo o site em português” e, não contente, chantageia dizendo que vai usar outra ferramenta.

Agora as seguintes perguntas:

  • Quanto o “colega” dispendeu de seu tempo para ajudar na tradução das mais de 3500 linhas de texto da versão em questão?
  • Quantas linhas o “colega” leu e corrigiu do que já foi feito?
  • Quanto o “colega” vai doar para a fundação que faz o software que ele está usando e ganhando seu dinheirinho?
  • Quanto o “colega” vai doar para que eu mantenha meu servidor no ar e tenha tempo para traduzir o software?

Por uma daquelas concidências monumentais como o alinhamento de todos os planetas do Sistema Solar, a resposta para as quatro perguntas é ZERO! Sim, um grande zero. Nada, niente, nothing, coisa nenhuma.

Ou seja, a “comunidade” ainda não sabe o que é software livre. Sabe que pode usar para fazer o que quiser, inclusive ganhar dinheiro (o que não é proibido) mas não sabe pensar: “puxa, este cara é legal. Deixou de fazer outras coisas para ficar na frente do micro e traduzir um software. Pô, vou dar uma mão também!”

Falta de pedir apoio não é. Listas de discussão para tradução do Mambo e seus componentes foram criadas, apelos em boletins e até mesmo uma página contendo as informações de como qualquer pessoa pode ajudar está no ar desde o primeiro dia do site oficial brasileiro. Quantos deram apoio? Conto nos dedos de uma mão. Isso é comunidade?

Quantos são os projetos mundiais que malogram por falta de apoio? Quantas são as pessoas que deixaram o software livre por causa de coisas assim? Quantos são os que realmente ajudam?

Então, quando for questionar/pedir/reclamar sobre um projeto de software livre, pense a respeito do que seus autores estão fazendo e principalmente de como você pode ajudar. Parafraseando John F. Kennedy, fica uma mensagem mais que justa neste desabafo: “Não pergunte o que seu país pode fazer por você. Pergunte o que você pode fazer por seu país”. Certamente vale para o software livre.