ENSOL 2.0 – Comentários sobre o evento

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No último final de semana (2 a 4 de maio) estive presente em João Pessoa, a terceira cidade mais antiga do Brasil e a terra “onde o sol nasce em primeiro” para participar como palestrante da segunda edição do ENSOL 2.0 – Encontro de Software Livre da Paraíba, um evento de software livre que está se consolidando e tornando-se referência no nordeste brasileiro. Aqui estão meus comentários sobre o que vi e vivi neste período em terras paraibanas.

Minha impressão aqui relatada é diferente da primeira edição quando estava participando ativamente de sua organização pois agora pude observar vários pontos que antes não teria como fazê-lo. Além disso os comentários devem servir somente como uma visão diferenciada de quem estava “do lado de fora”.

Observação: em nenhum momento este relato é oficial ou pretende ser. Ele é somente minha visão dos acontecimentos que presenciei ou participei, não tendo nenhuma ligação com a organização do evento.

Infraestrutura

O ENSOL foi novamente realizado no Espaço Cultural José Lins do Rêgo que se apresenta para mim como um espaço não destinado a este tipo de evento. A divisão das salas entre as duas “asas” do enorme pavilhão foi dificultada pela montagem de paredes falsas e o uso do vão central por uma feira multidisciplinar que começaria no sábado, ou seja, durante o período do evento. De outro lado, tanto sala principal (cine Banguê), a área para exposição dos stands e telecentro e também a sala dos palestrantes mostraram-se muito boas e atenderam perfeitamente as necessidades de todos, exceto por um problema crônico nas instalações elétricas que levaram a queima de dois carregadores de laptops (inclusive o meu) e, pelo que consta, mais alguns estabilizadores e no-breaks. Este fato foi lamentável pois devido ao alto custo de locação do espaço, a infraestrutura oferecida é ruim à beça.

Stands, área de convivência e telecentro

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O número de stands nesta edição foi menor que na primeira. Minha sensação inicial foi perceber a falta (ou não participação) de alguns patrocinadores que usam fortemente o software livre, tais como Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, além de grandes empresas nacionais e multinacionais as quais inclusive pude ver participando/patrocinando o FISL – Fórum Internacional de Software Livre ocorrido semanas antes em Porto Alegre.

Também senti falta dos grupos de usuários, os quais foram representados efetivamente somente pela turma do Fedora e do ENECOMP (que não chega a ser um grupo de usuários). Alguns membros da comunidade Debian e de outras distros estavam presentes mas não chegavam a ser grupos representados efetivamente. Este fato me deixa preocupado pois certamente um evento de software livre é voltado para a comunidade de software livre e a não participação destes integrantes conota no mínimo falta de interesse.

Não sei se a falta destes participantes e também de patrocinadores com stands tiraram meu interesse nesta área pois ela, por muitas vezes, pareceu-me “morta” ao contrário da primeira edição quando em qualquer momento via-se uma grande quantidade de pessoas circulando e discussões sendo travadas nesta área. De novo, somente a presença de alguns laptops OLPC e nada mais.

Já o telecentro, sempre ocupado, funcionou muito bem durante a maior parte do evento, onde inclusive por várias vezes (principalmente depois de ter queimado meu carregador) acessei a Internet em boa velocidade.

Palestras

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Confesso que fiquei feliz ao ver a grade do evento. A maioria dos palestrantes não eram “figurinhas carimbadas” do software livre nacional e, de uma forma ou de outra foi aberto um grande espaço para os palestrantes locais. Com isso ganharam os participantes que puderam conhecer pessoas que estão fazendo coisas novas no software livre e também nós palestrantes que pudemos conhecer novas pessoas e temas interessantes. Dentre eles pude conhecer o trabalho de Célia Menezes de Olinda/Recife e também de Guilherme Razgriz do Rio de Janeiro. Como destaque, claro, Jon maddog Hall com sua simpatia radiante e o trabalho de Nerdson (ou Kárlisson, como queiram) que além de mostrar como são feitas as famosas tiras do Bozo, é uma pessoa extremamente simpática e risível a todo o momento (valeram as piadas!).

Neste metiê pude reencontrar alguns amigos de longa data e que não os via desde minha mudança para Timor Leste. Anahuac, Fábio Santos (por onde ele anda?), Julio Neves (que agora somente bebe Coca-Cola e água), maddog, Rodrigo Padula e Sulamita. Pessoas que, como sempre, engrandecem qualquer evento com suas palestras fulminantes. Ponto para todos.

Em minha primeira palestra apresentei informações sobre o uso de ferramentas livres de gestão de conteúdo (CMS) livres, a qual despertou um bom interesse dos participantes do evento. Já a segunda, como era esperado, não obteve tanto apelo mas assim mesmo pude me sentir realizado por apresentar pela primeira vez em um evento nacional um pouco do dia-a-dia do trabalho com software livre em Timor Leste. Sem dúvida um tema que pode pouco a pouco tornar-se mais interessante devido ao exemplo que pode ser usado em nossa terra.

Participantes

Um número muito menor que na primeira edição. Infelizmente não sei por qual motivo, a presença este ano foi inferior inclusive ao que eu esperava. Um dos fatores pode ter sido a cobrança para a participação no evento com um preço que penso ter sido salgado (entre 30 e 50 reais para estudantes e entre 60 e 100 para profissionais). Mas o número menor não tirou o brilho do evento pois aqueles que lá estavam certamente participaram ativamente das palestras, fato facilmente percebido pela falta de pessoas circulando durante o horário das mesmas mas que também deixa evidente a menor participação.

Devido a falta dos grupos de usuários, senti que pouco existiram atividades paralelas como vejo em outros eventos e até mesmo rodinhas de programadores ou nerds confabulando sobre um novo código ou nova forma de segurança e/ou ataque. Isso trouxe-me um pouco de melancolia em alguns momentos mas nada que me levasse à fossa.

Organização

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De meu ponto de vista como palestrante, a organização foi soberba. A coordenação do evento e seus voluntários não mediram esforços para que tudo ficasse perfeito ou muito próximo disso. Sim, pequenos problemas existiram como o “sumiço” de palestrante e mudança de grande (motivos alheios aos organizadores) mas nada que descarrilasse o trem. Não foram medidos esforços para o atendimento de inscrições, emissão de certificados, suporte aos palestrantes tanto no evento quanto fora dele, infraestrutura de rede e assim por diante.

Entretanto, mesmo com tudo isso, pude perceber o esgotamento da maioria daqueles que trabalharam no evento principalmente pelas horas a fio resolvendo pepinos e atendendo demandas. Creio que isso se deve por falta de mais voluntários, os quais nesta edição estiveram presente em número menor que na edição anterior.

Conclusão

Faltou uma maior participação da comunidade, fosse palestrando, fosse participando com os grupos de usuários ou ainda simplesmente assistindo as palestras. O preço pode ter afugentado alguns? Sim, certamente, mas não seria um motivo tão forte assim. Confesso que não sei a quantas andou a divulgação do evento mas fica como lição o início das atividades já no ano anterior. Com isso ganha-se vários meses de vantagem para a mobilização nacional de todos.

Também faltaram patrocinadores. Pelos valores das cotas, fiquei espantado como a participação foi pequena, principalmente diante da estabilidade econômica de nosso país e do retorno certo que a primeira edição apresentou. Além disso, a presença de grandes grupos no FISL e a falta deles no ENSOL me cheira como algo muito errado sendo apresentado. Seria algum tipo de bairrismo ou pior que isso, preconceito com o nordeste de nosso país?

Não poderia dar nota menor que 8 (numa escala de 0 a 10) para esta edição do ENSOL. A diferença ficou principalmente pela organização e pelo ótimo nível técnico das palestras, mesmo faltando um pouco mais de mão na massa e atividades paralelas. De outro lado, não poderia dar um 10 pelos motivos acima citados. No final, mesmo cansado das escalas loucas de vôos e horários apertados, valeu cada segundo que passei destes dias no ENSOL.

Finalmente, um agradecimento especial à toda a organização do evento que desde meu convite até a entrega no aeroporto para que retornasse a minha residência, tiveram um zêlo todo especial. São estas atitudes que os fazem ser os vitoriosos que são.

Que venha o ENSOL 3.0.