Em nome da liberdade de expressão e da democracia vale tudo, inclusive destruir o próprio habitat com conteúdo duvidoso e de baixa qualidade a fim de arrebanhar algumas migalhas de anunciantes.
Não sou “blogueiro”, sou desenvolvedor de software e gosto de escrever. Fazendo isso comprovadamente há pelo menos seis anos, vi e participei de dezenas de mudanças na Internet mundial e principalmente na brasileira: novos serviços, novas tecnologias, novas pessoas e novas oportunidades nasceram e pereceram neste meio tempo. Claro que paralelamente seres dotados de pouca capacidade organizacional surgiram para viver às custas de seus hospedeiros.
No início da era “blogger”a função principal do movimento era a libertação, a apresentação de idéias, conceitos e opiniões de todos os tipos. Nesta biosfera conviveram lado a lado desde os mais ortodoxos até os mais liberais oferecendo conteúdo pessoal que inevitavelmente não chegaria a grande imprensa. Com a democracia da Internet e a facilidade das ferramentas existentes, cada vez mais pessoas com algo a dizer eram arrebanhadas para o novo modelo de divulgação do conhecimento humano.
Mas como na biosfera, o novo ambiente denominado de “blogosfera” também começou apresentar suas parasitas digitais que aproveitando-se dos seres organizados, criam estruturas de vida voltadas à vivência alheia onde o conteúdo não é importante, mas sim os cliques em pequenas caixas de anúncios os quais retornam migalhas para seus ditos “usuários”. Com isso, a peste se espalha por todo o espaço tornado muitas vezes impossível a tarefa de encontrar conteúdo de qualidade.
Alguns vão bradar: “estamos exercendo nossa liberdade de expressão, exercendo a democracia”. Ora meus amigos, existem limites para este exercício como para qualquer atividade democrática na vida. “Mas qual é o limite em um espaço aberto como a Internet?” Bom senso, simplesmente bom senso.
A maioria dos leitores não divulgam pornografia em seus sites. Se for qualquer conteúdo relacionado a pedofilia, o número se torna mais reduzido. E por quê não colocar? Simplesmente por questão de bom senso (mesmo sendo proibido em nosso país). Aqueles que o fazem normalmente munem-se de pseudônimos e outras artimanhas para não serem denunciados e também para que suas imagens não se tornem enlameadas. Se isso acontece com pornografia e pedofilia, porque não manter o bom senso com o conteúdo “menos desprezível”?
Um exemplo da falta de bom senso foi a quantidade de “notícias” relacionadas com a parada de manutenção no site de relacionamentos Orkut na semana passada. Como um verdadeiro ciclone, a “grande notícia” tornou-se motivo para que espertalhões de plantão e parasitas digitais conseguissem alguns tostões a mais de usuários ávidos por um conteúdo efetivamente explicativo para o ocorrido.
Claro que não pode ser esquecida aquela parasita que “copia e cola” notícias de real conteúdo, muitas vezes sem uma mudança de vírgula e até mesmo sem a citação da fonte somente para acrescentar alguns cliques em seus relatórios. Nada mais repugnante que uma atitude destas a qual mostra a real cultura da Lei de Gérson predominante.
Temos saída para este assassinato digital e destruição da biosfera digital? Claro que sim. Devemos exercer a democracia e a liberdade de expressão justamente. Na pior das hipóteses, deixar que a teoria da evolução das espécies pensada por Darwin faça efeito em nosso habitat para que os seres de menos capacidade de adaptação pereceram com o tempo.
Finalmente, antes de ser estabelecida a Inquisição internérica, que fique clara minha posição: não sou contra os anúncios e tampouco contra os blogs. Sou contra os hereges que acreditam exercer o direito da democracia e impregnam a Internet com algo que chamam de conteúdo. Se algum tribunal inquisidor for criado, este deve julgar os crimes contra a “fé blogueira” para purificar em suas fogueiras as almas aliciadas pelo lado escuro da força.