Retorno de férias, OpenXML, ODF, ISO e ABNT

Depois de trinta dias de férias, retorno com muitas novidades, artigos e também ajustes na ferramenta do site para resolver alguns problemas relacionados com o download de arquivos. No meio disso tudo, chego no olho do furação do assunto do voto brasileiro junto a ISO (International Standart Organization) quanto a questão da especificação OpenXML se tornar um padrão ou não.

Leia a seguir o resumo das novidades e também um comentário sobre o voto de um colega junto a ABNT.

Ao contrário da maior parte dos brasileiros, não gosto de tirar férias longas. Prefiro férias pequenas de dez dias mas que sejam a cada três ou quatro meses. Normalmente consigo isso sem muito problema e depois de certas negociações. Agora, estando em Timor Leste, tenho a cada doze semanas, sete dias de descanso que junto com os dias de férias disponíveis e acabo passando o mês inteiro fora. Bom? Claro que sim, mas posso garantir, férias também cansam.

Os relatos de minha última viagem de descanso ao centro da Europa está sendo postado a partir de hoje em meu blog pessoal que pode ser acessado pelo endereço www.michelazzo.blog.br. Lá também estarei postando os links para as fotos, dicas de locais interessantes e outros assuntos relacionados.

Mas o retorno sempre é complicado. Minha caixa de mensagens continha pelo menos mil e duzentos novos e-mails que precisavam ser processados. Digo processados pois há muito tempo deixei de ler o e-mail todo. Leio somente o assunto do mesmo (subject) e se nele existir algo interessante, leio o restante. Caso contrário, a tecla delete trabalha fervorosamente para dar conta das baboseiras que normalmente caem dentro da caixa de correio.

Com este processo, percebi que a área de downloads do site não está muito boa devido a solicitação de alguns leitores que não conseguem fazer o download arquivos. Estes arquivos NÃO SÃO vídeos, os quais removi de meu servidor há muito tempo devido ao excessivo consumo de banda, mas sim, arquivos comuns. Então, algo está errado e será corrigido em breve.

Além dos e-mails tem também a ferramenta de RSS que claro, estava abarrotada de novos posts dos mais de cem sites que regularmente acesso. Muitos deles, a tecla delete deu conta mas outros, principalmente os relacionados a MySQL e PHP ainda estão sendo processados. Também existem os novos sites que agreguei logo que cheguei: o blog do Pizza de Santa Catarina, o de Miguel Bolaños, grande amigo costariquenho e finalmente um novo site de novidades relacionadas a aplicativos para Mac, o I Use This.

E quando o assunto é padrão
OpenXML versus ODF. O assunto pegou fogo nas últimas semanas e fiz o possível para participar mesmo estando em férias. Claro, minha participação nestes assuntos está sendo mais de apoio e discussão com alguns amigos mais íntimos do que efetivamente de fazer barulho. Estando tão longe e com uma diferença de fuso tão grande, acabo me entretendo em outros assuntos e não consigo meios para participar mais ativamente.

Finalmente, na semana passada, a ABNT decide votar pelo “não” na questão da especificação OpenXML se tornar padrão ISO. Com isso ela segue já o voto de países como EUA, Índia, China e boa parte da Comunidade Européia. Confesso que tinha medo disso não acontecer pois como na música “O Meu País” cantada por Zé Ramalho, “tô vendo tudo”.

Entretando meu medo caiu por terra e o bom senso prevaleceu. Não de todos. Um deles, César Brod, grande conhecido da comunidade de Software Livre, votou pelo “sim”, ou seja, em favor da Microsoft. Atitude estranha para quem tem anos de trabalho dentro desta área mas que de uma forma ou de outra pode ser explicada (não por mim). Passada a turbulência, o mesmo posta em sua coluna na Dicas-L o porquê de seu voto a favor da especificação da Microsoft, o qual rebati em comentário transcrito abaixo:

Comentário ao artigo de César Brod na Dicas-L, 23/08/07
Caro Brod,

Mesmo estando afastado de nosso país, não deixo de acompanhar o que aí está acontecendo. Como bom brasileiro, tento me manter informado e também participando de uma forma ou outra do que ocorre em nossa terra, especificamente nas questões relacionadas à área de software livre da qual fazemos parte.

Desta forma venho acompanhando junto com um pequeno grupo de amigos a questão do voto brasileiro no tocante à adoção ou não da especificação OpenXML com padrão ISO e tal como o colega Avi da IBM Brasil, não esperava seu voto a favor do “sim” à esta especificação e muito menos o “esclarecimento” postado na Dicas-L, o qual gostaria de comentar.

Inicialmente fiquei na dúvida se tinha compreendido a ambiguidade de sua descrição em apoiar o OpenXML e, ao mesmo tempo, ser a favor do ODF. Não estando inserido em seus pensamentos, falta-me condições para compreender como isso é processado por você, haja visto que ambos os lados são incompatíveis em todos os pontos, principalmente naqueles relacionados a questões de liberdade de uso e interoperabilidade de sistemas. Para mim, soou tão estranho quanto um americano dizer que é republicano mas também apóia os democratas, ou ainda, trazendo para a realidade brasileira, ser integrante da UDR e ao mesmo tempo apoiar as invasões de terra levadas a cabo pelo MST.

Obviamente que você tem todo o direito (assegurado inclusive pela nossa carta magna) de participar com sua opinião em qualquer coisa que gere abertura de conhecimento ou onde quiser. Mas diante do seu artigo publicado no Dicas-L ficam duas dúvidas: a) qual é sua opinião, haja visto que se é a favor de ambos, a não existe uma opinião realmente; b) qual é a abertura de conhecimento gerada pela adoção do OpenXML como padrão ISO?

Você pode advogar que os quarenta bilhões de documentos existentes no mundo seriam uma abertura de conhecimento. Entretanto rebato este futuro comentário questionando-o onde está o conhecimento contido em planilhas de cálculo usadas em instituições financeiras, em contratos de trabalho de empresas multinacionais ou quiçá em pequenos arquivos de apresentação contendo lições de vida ou positivismo? O conhecimento não está dentro dos documentos usada pelo autor, mas sim na obra que foi desenvolvida com uma ferramenta informática ou de qualquer outra. Se seguirmos esta lógica, diz-me que vale mais o documento escrito em um editor de textos do que aquele em um papel de pão, mesmo sendo este documento uma fórmula como e=mc2 ou ainda um projeto de um software.

Se a empresa de Redmond não publicasse suas especificações (que são padrão somente em Redmond), nada mudaria na criação humana. Continuaríamos a ter novos aviões, usinas hidroelétricas, telefones celulares e pesquisas de nanotecnologia. Artistas continuariam a criar peças teatrais, o cinema continuaria a nos entreter e até mesmo atentados terroristas continuariam a acontecer. O mundo não iria parar por causa disso (como não parou até hoje) e seria somente mais trabalhoso versar estes documentos para outro formato, caso fosse necessário. Observe que digo “caso” pois, como bem sabe, ferramentas de busca como as levantadas em seu artigo permitem hoje esta busca e indexação sem a necessidade do OpenXML se tornar um padrão ISO, podendo todos os quarenta bilhões de documentos continuarem como estão que serão pesquisados como se nada tivesse acontecido.

Adotar um padrão aberto de fato e realmente especificado não é uma decisão contra uma empresa, mas sim a luta contra todos aqueles que desejam manter as rédeas de outrem na mão de poucos. A partir do momento em que temos uma especificação proprietária como padrão para toda a sociedade, estamos legando ao seu detentor o direito de decidir o que iremos fazer ou não. E se dentro de dez anos o proprietário do determinado “padrão” resolver fechá-lo novamente? O que teremos? Não mais quarenta bilhões de documentos, mas sim quatrocentos bilhões que estarão ao bel prazer de uma pessoa ou empresa. Por isso inclusive que decisões como estas são demoradas e complexas.

Se a companhia americana decidiu abrir parte de suas especificações ao mercado, ponto para ela. Da mesma forma que a SUN esta semana disponibiliza o projeto de seu mais rápido processador sob GPL, torna-se uma commodity e não mais um produto. Melhor para as empresas mas isso não quer dizer que seja melhor para nós ou para a sociedade. A sociedade necessita de padrões, sejam para trânsito, sejam para comunicações, sejam para documentos. E estes padrões devem ser ditados pela própria sociedade a qual, como você bem disse, evoluem com o tempo. Mas não somente com o tempo, evoluem também porque nós, seres humanos, também evoluímos. Se dependermos de uma especificação de uma empresa que tornou-a padrão, a nossa evolução passa a ser ditada por ela e não mais pelo conjunto de todos nós.

Não peço para que reveja sua posição pois ela pode estar apoiada por inúmeras razões que desconheço e sou somente um leitor comentando seu artigo. Mas como bem disse Shakespeare, penso que “entre o céu e a terra existem muito mais coisas que minha vã filosofia desconfia”, creio que ela é curta para chegar ao entendimento sobre seu voto. Entretanto, pense a respeito do mesmo.

Enfim, um conjunto grande de coisas acontecendo. Novidades? Claro que tem. Estou terminando finalmente o livro sobre PHP e já juntando material sobre o próximo de MySQL, além de alguns tutoriais interessantes para o povo livre usuário de Macintosh. Coisas interessantes sem dúvida.

Aguarde!

Obs: até a presente data, César Brod não respondeu as duas perguntas feitas no comentário.