A pessoa que possui o maior número de certificações Microsoft em todo o mundo é um brasileiro. Se não bastasse, ele ainda possui diversas outras de empresas e produtos que certamente o levam para um patamar onde poucos conseguem chegar. Com mais de 100 certificações, Dalton Gerth é realmente fera no que faz e ainda acrescenta em seu curriculum a formação em Física e pós em TI.
Tive a oportunidade de trabalhar com ele em 2001 numa empresa da área de telefonia no interior de São Paulo. Em seu primeiro dia lembro-me que eu vestia uma camisa com o mascote do FreeBSD estampado. Coincidência? Que nada, provocação mesmo; afinal o cara era “o cara”. Mas ao contrário da grande maioria dos “MC qualquer coisa” que estariam prontos para me atacar com caixas de software da gigante, perguntou-me educadamente se eu usava o BSD. Respondi que sim (naquela época) e este me retruca: “sabia que a pilha TCP do Windows NT é toda do BSD?” Mais que isso, Dalton é evangélico e poderia muito bem pichar minha escolha pois o mascote deste SO é justamente um diabo; simpático, mas um diabo. E para um evangélico, certamente não é algo para se adorar.
Mesmo com as diferenças nos tornamos amigos ao longo do tempo e inevitavelmente perguntei como se consegue um número tão grande de certificações. “Decoreba”, responde ele. Pensando não ter entendido direito a resposta, ele me confirma: “certicação, em sua esmagadora maioria, é decoreba. Você pega um livro voltado para a certificação, decora os principais pontos e passa”. Para mim, uma confirmação daquilo que já imaginava.
(pausa para você se recompor)
Obviamente que a resposta foi generalizada. Existem algumas certificações, principalmente aquelas que possuem partes práticas, que não é um decora texto que vai permitir o candidato passar no exame, mas via de regra é um simples conjunto de perguntas com múltipla escolha de resposta onde a probabilidade de passar marcando tudo “A” é grande.
Os anos passaram e conheci outra pessoa fera em seu trabalho. Guilherme Chapiewski, hoje engenheiro sênior do Yahoo Brasil, é daqueles que abominam certificações e não tem medo de falar isso. Em vários eventos que participamos juntos, ouvir sua analogia da certificação com carne é algo que arranca as mais barulhentas gargalhadas da platéia (e minhas). Para ele, carne é certificada e não gente. Uma visão muito interessante principalmente quando se ouve seus argumentos e seu histórico. Sem terminar a faculdade e ter certificações como apêndice em seu nome, é um dos melhores programadores que conheço em todo o mundo e faz jus a sua atual posição.
Sem sombra de dúvida este assunto é extremamente controverso e possui defensores de ambos os lados. Alguns apregoam às certificações a solução de suas carreiras, enquanto outros se esquecem delas e vão para o show me the code. Nada contra ambos os lados pois inclusive tenho algumas destar certificações (que nunca usei) perdidas junto de dezenas de certificados de palestras ministradas em todo o mundo mas não faço disso minha vida e tampouco “mudo” meu nome por isso como algumas pessoas fazem na rede social LinkedIn. Lá é fácil encontrar o “Fulano da Silva MCPS CCIP WTF FDP” que aparentemente precisa dos acrônimos para dizer que é alguma coisa realmente. Quando vejo isso, lembro-me de Dalton e fico imaginando se o campo de nome em seu perfil na rede seria suficientemente grande para colocar todas as que tem.
Hoje o mercado de certificações (sim, é um mercado) atrai um enorme número de pessoas que desejam fazer um upgrade em suas carrerias. Mais uma vez, nada contra esse processo, mas sim contra aqueles que acreditam ser esta a solução para tudo. Longe disso; ter uma certificação e na hora do show me the code sair pipocando e tentando arrumar um paliativo qualquer para uma pergunta é no mínimo risível. E pior, escutar “mas você não é certificado?” certamente é o inferno de qualquer profissional.
O mesmo acontece com as titulações de faculdades e universidades. De nada adianta ser “Prof. Dr. Sr. João da Silva” e nunca ter passado pelo show me the code. Dentro da vida acadêmica certamente é um diferencial mas na rua, prática também conta; e muito.
Não é um pedaço de papel que vai dizer quem é bom ou não. Existem milhares de cirurgiões plásticos no país mas somente um Ivo Pitanguy. Da mesma forma arquitetos; Oscar Niemeyer é único. O que difere estes dos demais? A vontade de realmente aprender, a curiosidade, o suor do rosto e a ousadia de ir além.
Procurar o conhecimento e não somente o papel é a melhor solução. Não é porque você é um PCCN (profissinal certificado em coisa nenhuma) que vai ser preterido. Aquele que realmente faz, sempre tem um emprego garantido e constantemente é procurado pelo mercado. Mesmo sem ter uma faculdade nas costas ou uma certificação, ser bom é o grande diferencial para qualquer empresa. Não raro grandes companhias de tecnologia empregam espécimes que realmente fazem, não atentando-se para pedaços de papéis ou acrônimos desgastados.
E por favor, retire estes acrônimos de seu nome. Se você não chama-se William Henry Gates não precisa colocar o “KBE” logo depois. Use o espaço para certificações logo abaixo.
Lembro-me muito bem de quando vi o Paulino. Sem dúvida, a pessoa mais rápida que já vi decodificando em um teclado. Sua capacidade intelectual, associado a velocidade do que consegue transpor sua idéias em bytes é algo totalmente sobrenatural.
Um forte abraço meu amigo, mesmo estando a milhares e milhares de KM de distância, sempre será uma pessoa em que admiro e inspiro.
D.Gerth
Não é verdade, as vezes o teclado perde da cabeça e com o passar dos anos, isso anda ficando pior 😉
Abraços e bom te ver por aqui.