Com o atual mundo globalizado muitas empresas passam pelo dilema de sair ou não para o mercado internacional com seus produtos e serviços. Mas será que contaram para os pequenos empresários todo o roteiro de terror que pode se transformar esta aventura e que ela não são férias no velho continente?
A maioria dos atuais gurus do empreendedorismo gastam lábia convencendo empresários que a internacionalização da empresa é algo necessário, quando não obrigatório. Para isso usam desde argumentos plausíveis até injeções de medo e descrença num discurso que muitas vezes beira o fanatismo visto em algumas comunidades religiosas por todo o mundo. Pior mesmo é que pouco dizem como isso realmente pode ser feito e também quais são os grandes desafios, entraves e custos desta necessidade. É mais ou menos como afirmar que você precisa de um passaporte para viajar mas não sabem o que é um passaporte e tampouco como obter um.
A internacionalização não é o graal de nenhuma empresa; pelo contrário. Pode-se tornar um cano rompido por onde vaza rios de dinheiro que normalmente o pequeno empresário não tem e que por um capricho, por indicação equivocada destes mesmos gurus ou por má realização, leva-o ao buraco antes mesmo do que imagina. Se assim o é, porque desta fome de internacionalização bradeada por todos?
Um dos motivos é status. Isso mesmo; status. É bonito dizer que está exportando ou afirmar que a empresa possui filial em NYC, Tóquio, Londres ou mesmo Lisboa e Buenos Aires. Muitos empresários inclusive sonham com o dia que poderão afirmar de boca cheia que são uma “multinacional” mas este é um equívoco que pode custar o fundo do bolso de qualquer empresa. Ir para o exterior só para dizer que lá está, é melhor pagar uma passagem aérea e tirar férias em Paris.
Outro grande motivo vendido por todos é a necessidade de expansão da empresa para outros mercados. Afirmar isso num país como o Brasil que possui quase 200 milhões de habitantes soa um tanto estranho aos ouvidos de qualquer um. Para ter um ótimo mercado e que realmente valeria a pena investir, este precisaria ser do tamanho do nosso ou maior, ou seja, Estados Unidos, Índia, China e Indonésia. O restante, balela. Internacionalizar em Portugal? México? Argentina? Por favor, não me faça rir.
5 motivos para não internacionalizar-se
Diante disso, vale realmente a pena levar a empresa para fora do país? Claro que a pergunta possui várias interpretações e varia muito de segmento para segumento, de atividade para atividade. Então, deixe-me listar alguns dos motivos pelos quais você não deve e não precisa sair da terra brasilis.
Mercado nacional
Já dito que o Brasil possui quase 200 milhões de habitantes, pergunta-se: para quê uma empresa precisa sair daqui e se matar fora do país? Nosso mercado não é tão grande quanto o que aparenta ou será que o empresário, ao invés de olhar o velho continente esquece de olhar o quintal do vizinho? Temos vantagens gigantes sobre a maioria dos mercados mundiais mas sempre achamos que a grama do vizinho é mais gostosa. Nossa economia está aquecida, estamos com regulares taxas de crescimento e um novo contingente de brasileiros saem das classes mais baixas. Além disso ter um país com um único idioma num território tão vasto e sem problemas naturais é o sonho de todo e qualquer empresário visionário.
Custo da operação
Tenha certeza, custa e muito levar uma empresa para fora. Não estou falando somente do custo de alugar um escritorinho em qualquer Chinatown de cidade do hemisfério norte, mas sim de tudo aquilo que faz parte este processo. Pesquisa de mercado, campo de trabalho, custos trabalhistas, logística, marketing, adaptação de processos, etc, etc, etc. A lista é tão grande que não caberia neste texto e certamente nos próximos pontos, você irá detectar outros tantos custosos.
Diante desta lista, será mesmo que existe caixa para a empreitada? Será que vale a pena o investimento? Será que o retorno da operação é condizente? E principalmente, será que você colocou tudo isso numa planilha para responder estas perguntas?
Você não fala inglês (ou espanhol ou mandarim ou qualquer outra coisa)
Sim, o idioma é uma enorme barreira. Aquele the books on the table serve para você passear na Europa e/ou Estados Unidos mas não serve para o mundo dos negócios. Seu interlocutor quer segurança quando está falando com um empresário e a primeira falha notada é no idioma. Também não adianta querer sair pela tangente e internacionalizar em Angola, Cabo Verde, Moçambique ou Portugal só porque falam português. Não falam nada parecido com o que falamos e tampouco o mercado vale realmente a pena (exceto para áreas bem específicas).
Qualidade dos produtos e/ou serviços
Me desculpe, pode parecer até afrontoso mas são raras as empresas nacionais que possuem um nível de qualidade mínimo para passar no crivo de um mercado consumidor exigente como o europeu ou americano. Observe por exemplo os produtos in natura brasileiros (como frutas) que aportam no velho continente. Sempre as mais bonitas, as mais bem cuidadas, as perfeitas. Sem este “processo de qualidade”, estes produtos nem mesmo saem daqui porque certamente serão devolvidos. Isto não acontece somente neste segmento. Na área de software, por exemplo, acredita-se que é fácil competir só pela criatividade brasileira. Ledo engano. Empresas estrangeiras que copram software e serviços desejam certificações de processos, de produtos e outras inúmeras exigências que atender a todas sai mais caro que manter-se aqui e solidificar a empresa.
Atendimento e cultura
Um dos grandes pecados do empresário brasileiro, desde o mais nanico até o monstruoso é simplesmente ligar o “tô nem ai” para seus clientes. Isso acontece sistematicamente na pequena padaria do bairro e nas grandes operadoras de telefonia (principalmente elas). Então, como sair da cultura da Lei de Gérson e cair noutra como a americana onde qualquer escorregão é motivo de processo com pedido de milhões em indenização? Será que está realmente pronto para enfrentar este tipo de situação?
Quanto a cultura, o quanto conhece do mercado que vai atuar? Quais são as diferenças e como elas afetam seus negócios? O prazo de entrega no novo mercado é condizente com o que pode fazer? E a questão religiosa? Seu produto e/ou serviço é aceito nestes países? A cultura local é um dos grandes entraves para o empresário que deseja levar seu negócio para fora e a falta de um bom estudo sobre ela pode acarretar grandes perdas. E pior, este estudo tem custo, não esqueça disso.
Então, não vale a pena a internacionalização?
Boa pergunta. Vale quando não é a prioridade da empresa e principalmente quando ela não está mais engatinhando no mercado nacional pois antes de tentar alçar voos para outras terras é importante que ela deixe de ser estatística dentro do Brasil. Além disso, existem diversas formas desta internacionalização ser realizada tais como alianças, joint-ventures, representações e etc, que podem facilitar o processo para aqueles que acima de tudo acreditam que é a única saída para seus negócios.
Posso parecer cético, desistimulador ou até mesmo pessimista mas ao contrário do que pode pensar, esta não é minha intenção. A idéia é apresentar um pouco daquilo que os tais gurus esquecem de falar quando o assunto é internacionalização, seja por conveniência ou por medo de nào agradar. Como já dito, é bonito e tem-se um status muito interessante em dizer que a empresa atingiu outros mercados além do brasileiro. Mas esta beleza tem um custo e cabe ao empresário mensurar se realmente vale a pena dizer que está fora de casa com a empresa ou se é mais interessante passear nas ruas de Praga e comprar qualquer lembrança para trazer. O custo na segunda opção certamente é menor e o resultado pode ser muito mais gratificante.
Ótimo post Michelezzo !
O
Excelente post, mestre Paulino ;).
#Rt now!
Ótimo post.
Ótimo post, estarei apresentando meu TCC sobre Marketing Internacional e esse conteúdo acrescentou bastante no que diz respeito a não investir no mercado internacional em comparação com o benefício de investir no exterior.