Colaborar é algo que fazemos com mais frequência em nossas vidas. Tal como respirar, é inerente ao ser-humano a colaboração. Mas será que está na hora da empresa entrar na onda das redes sociais? Leia sobre este assunto em mais um artigo para a revista TI Digital.
Todo o brasileiro que possui um aparelho de TV em casa já ouviu falar que o trânsito paulistano é considerado o inferno na Terra. Também pudera, em uma cidade com mais de 6 milhões de veículos andando para baixo e para cima e pífios investimentos em transporte público por parte do governo, só com a ajuda de muitos santos (será que por isso que a cidade leva o nome de santo?) e algumas artimanhas como pistas reversivas e rodízio diário que a coisa “ainda” anda.
Neste cenário aparece um aliado muito forte dos motoristas; rádios FM que transmitem durante o dia a condição do trânsito por toda a cidade informando onde está ruim, onde está péssimo e também as alternativas para escapar deste cotidiano maluco. Sem dúvida um serviço de extrema importância que algumas empresas aproveitam-se da audiência cativa para fixar sua marca ou produto.
Até aqui, nada anormal pensa o leitor. Mas o interessante deste serviço não é o grupo de jornalistas e repórteres que trafegam diariamente pelas ruas e avenidas informando a todo o instante o que acontece. É a rede de colaboração criada pelos ouvintes que podem enviar mensagens de SMS, e-mail ou ainda utilizar um portal de voz (um tipo de secretária eletrônica) para também enviar seus relatos sobre as condições de trânsito nos lugares que estão passando. A coisa é tão boa que nem mesmo a companhia que gerencia o tráfego na cidade com todo o seu efetivo trabalhando no horário de pico consegue a mesma eficiência destas emissoras e seus ouvintes, chegando ao ponto de ter presenciado dias atrás um fiscal escutando o rádio do carro para saber qual o melhor caminho para chegar em uma ocorrência.
O interessante é que não existe uma ação forçada por parte das emissoras para a criação desta rede. Ao contrário, seus ouvintes gostam e participam pelo simples fato de estarem “colaborando e compartilhando” com outras pessoas as mesmas angústias, desejos e necessidades, mesmo que estas sejam totalmente desconhecidas e nunca se cruzem nesta vida. Esta colaboração é almejada por todas as empresas, organizações e até mesmo políticos nos dias atuais. São consumidores e colaboradores ávidos em participar de algo maior dando um pouquinho de si para que o todo ganhe. A mesma filosofia, pensamento e desejo dos amantes do software livre.
Contra esta maré virtuosa temos os marqueteiros de plantão formados nos últimos três anos em “redes sociais”, “blogs”, “tuiters” e outras formas de comunicação people-to-people cacarejando todo o tipo de besteira possível e imaginável para empresários que percebem a capacidade e força do sentimento humano mas desconhecem como fazer para aproveitá-lo. Neste momento a visão do estouro da bolha de 2000 retorna com os mesmos atores: de um lado, especialistas formados seis meses antes que “sabem tudo” e de outro, ignorantes que sentem o que está por vir e na ânsia de sair na frente, abraçam qualquer parceiro e acabam doentes (ou mortos).
Ao empresário que vislumbra uma rede de pessoas ao redor de seu produto e serviço, uma dica: aguarde e deixe que suas ideias e estratégias para o mundo da colaboração amadureçam. Não existe um timing correto como querem vender à você e muito menos o canto da sereia do “quem chega antes leva”. O amor do consumidor por um produto ou serviço é atemporal e não é criado por modismos passageiros. Não acredita? Veja a Apple, seus Mac’s e seus consumidores. São tão fiéis que a cada lançamento de novo produto se esbofeteiam para assistir Steve Jobs no palco e formam filas nas lojas da empresa para a aquisição da última novidade.
A Internet e seus derivados (lê-se intranets) realmente colaborativa ainda engatinha em todo o mundo e não é por falta de ferramentas ou soluções. Faltam bons modelos que aproveitem toda sua capacidade levando-a ao extremo da colaboração e compartilhamento de conhecimento. Numa conversa que tive com um grande amigo e pensador do assunto, ele me contou sobre algumas intranets que conheceu ao redor do mundo. Numa delas o executivo quando precisa fazer uma viagem, tem à sua disposição um imenso conjunto de serviços adicionais para a criação de seu roteiro. Além de automaticamente serem escolhidos os voos de acordo com suas preferências pessoais e do cartão de milhagem, além do assento e tipo de hotel, a ferramenta busca na Internet web sites de conteúdo colaborativo para dar o toque final; oferecer (com a possibilidade de aquisição imediata) um concerto que está acontecendo em uma das noites livres do executivo no local de destino (que o sistema já sabe de antemão qual é pois tem acesso a sua agenda) ou uma atração como um museu que está com uma exposição de seu gosto. Depois, tudo isso é sincronizado com seu tablePC, além de ficar disponível para acesso de qualquer lugar.
Mágicas como estas são possíveis somente se existir sinergia entre duas partes: ferramentas eficientes para colaboração e gerenciamento de conteúdo e claro, o conteúdo em si. Não existindo compartilhamento, não é possível a criação de uma base de dados eficiente para oferecer diversas opções aos interessados, sejam eles consumidores dentro de uma intranet ou mesmo nas Internet.
Colaborar e por tabela, compartilhar, pode ser para muitos algo normal no cotidiano mas para uma grande maioria ainda é um tabu que precisa ser quebrado. Nunca se perde no compartilhamento, mas sim soma-se a parte de cada um num grande todo que depois é distribuído sem onerar aquele que compartilhou. Quer queira quer não, somos até bons nisso e exemplos não faltam ao redor do mundo (vide o Haiti) mas ainda precisamos fazer um pouco mais como no caso do trânsito paulista e não ouvindo os gurus da moda.