E chega o ano de 2003. Muito mais que o fim de um e o começo de outro, realizamos um sonho perseguido há pelo menos outros vinte. No último 1º de janeiro tivemos enfim empossado, um presidente eleito pelo povo brasileiro que se originou deste mesmo povo que o escolheu. Luiz Inácio Lula da Silva é depositário fiel dos anseios de todos os brasileiros e não somente daqueles quase 52 milhões que nele votaram. Certamente uma tarefa árdua e espinhosa de ser realizada.
Se não bastassem todas as possíveis e inimagináveis dificuldades de gerir nosso país, ele e sua equipe possuem também vários desafios a serem atingidos na área de tecnologia – base de sustentação para qualquer tipo de mudança ou ação nos dias de hoje. FUST, universalização da telefonia, padrões para TV digital, pesquisas de software, incentivos fiscais para informática, etc., serão pautas constantes em todas as mesas de discussão.
E aqui entra o software livre. Partindo-se das premissas e exemplos apresentados pelos governantes de seu partido em várias cidades e estados brasileiros, o software livre não deve ser esquecido e muito menos jogado ao relento. Deverá sim, ser um dos pilares para a sustentação de todo o processo de democratização social esperado e agora, em âmbito nacional, o que pouco foi feito pelos últimos anos de governo.
Mas ações unilaterais somente, sejam do governo, sejam da comunidade do software livre, são pouco eficazes para sua real adoção. É imperativo que a comunidade esteja unida e coesa, a fim de fornecer subsídios informativos aos legisladores, fazendo com que estes possam criar leis que atendam a todos e prestem para levar adiante as reformas esperadas.
Não exclusivamente de leis se faz esta adoção. Projetos, ferramentas, métodos e sistemas que atendam as necessidades hoje apresentadas pelo nosso país, devem ser criadas como alternativas ao status-quo do software proprietário. Aplicativos para educação fundamental e básica, sistemas de gestão, colaboração e tantos outros, devem ser levados a cabo em curto espaço de tempo, caso contrário estaremos fadados a continuar na atual situação de dominação do capital sobre o intelectual.
Sendo o software livre hoje numericamente a área que mais cresce na informática (em bases instaladas ou sistemas adotados), empresas, repartições públicas, escolas, faculdades e muitos outros setores reconhecem suas qualidades em detrimento ao software proprietário. Não somente o custo pesa na escolha, mas também sua questão social e moral. Entregar royalties à companhias estrangeiras que abusam livremente da paciência e benevolência do cidadão deve ser abolida. Não queremos o retorno das naus de Cabral a nos presentear com espelhos e pentes. Queremos (e devemos) ter nossa própria indústria de software baseada na inteligência e capacidade de nosso povo, que de longe, é reconhecida como criativa e capacitada a executar qualquer projeto.
Cruzar os braços não nos é mais permitido. Se existe o interesse em pactuar com as idéias do novo governo, com as novas possibilidades e com a nova ordem social, arregacemos as mangas para produzir mais, em melhor qualidade, em menor tempo. Somente assim poderemos legar à toda sociedade civil algo que tanto queremos, a verdadeira liberdade de escolha daquilo que é bom e daquilo que nos faz atuar, e não somente coadjuvar para outrem.